SHOTOKAN JKA KATAS
Shotokan (松涛館?) é um dos estilos de karate que surgiu dos ensinamentos ministrados pelo mestre Gichin Funakoshi e por seu filho, Yoshitaka Funakoshi. O repertório técnico do estilo foi baseado no do Shorin-ryu, mas, devido aos estudos empreendidos pelo filho do mestre e sua influência, várias técnicas foram incorporadas e/ou modificadas, de modo a refletir o escopo almejado, que era o de valorizar mais os lados desportivo e físico como forma de promover o desenvolvimento pessoal.
Mestre Funakoshi, em princípio, não denominou o que ele ensinava de um estilo próprio, mas, antes de tudo, afirmava que ensinava karate. Por outro lado, é certo que ele ensinava a arte marcial de acordo com sua visão e entendimento particulares sobre a mesma, mas isso seria explicado — também segundo o próprio mestre comentava — como uma consequência natural, pois vários professores ensinariam uma mesma disciplina de modos diferentes. Entretanto, alguns de seus alunos, como forma de homenageá-lo, manufaturaram uma placa com a inscrição Shotokan, eis que Shoto era a alcunha que o mestre assinava suas obras, pelo que o dojô passou a ser conhecido como "casa de Shoto".
A despeito de outros mestres tentarem antes e contemporaneamente, foi o estilo de mestre Funakoshi que logrou êxito em vencer as barreiras culturais opostas a Oquinaua e difundir o karate pelo resto do Japão, modificando nomes de técnicas e adaptando outras.
História
O mestre Funakoshi começou a praticar o karate sob os auspícios do mestre Anko Asato — experto no estilo shuri-te, de karate, e Jigen-ryu, de ken-jutsu — que fora discípulo do grande mestre Bushi Matsumura, por volta de 1880.
Não muito depois, Funakoshi passa a treinar com mestre Anko Itosu, com quem aprende as principais técnicas. Por outro lado, o aprendizado se deu com outros mestres de renome, com os quais, além de obter novos conhecimentos, também foi influente, como Kenwa Mabuni, Kanryo Higaonna, Chojun Miyagi.
O mestre Itosu empreendera sérios esforços para popularizar a arte marcial, não sendo muito bem-sucedido, pelo que passou a chamá-la de kara-te, pois naquela época, fim do século XIX, ainda era chamada de to-de. Funakoshi parte daqueles movimentos e despende novos esforços. E, em 6 de março de 1921, o príncipe herdeiro Hirohito assiste a uma demonstração encabeçada por Gichin Funakoshi, no castelo de Shuri, ajudado por seus discípulos e pelo mestre Miyagi.
Depois, em 1922, no instituto Kodokan, a convite do mestre Jigoro Kano — criador do judô — foi feita uma demonstração pública do karate, permanecendo em Tóquio por mais algum tempo.
Por volta de 1935, tem início um movimento de alguns discípulos de Gichin Funakoshi, para ver um lugar próprio de treino de karate e, em 1936, esse esforço dá resultados e é finalmente construído um dojô(道場 sítio de treino?) em sua homenagem e o chamaram de Shotokan, ou "casa de Shoto", colocando uma placa com tal inscrição nos umbrais da entrada. Infelizmente, o prédio original foi destruído durante um bombardeio na II Guerra Mundial.
Gichin Funakoshi não acreditava na diversificação de estilos, e sim que todo o karate deveria ser um só, mesmo com as diferenças naturais de ensino que variam entre os professores.
No desenvolvimento do estilo, Sensei Yoshitaka Funakoshi teve muita importância, pois dava o exemplo de afinco ao treinamento e influenciou sobremaneira na introdução de outras técnicas, como os chutes laterais e o emprego de bases mais baixas que as costumeiras do Shuri-te e derivados, como shorin-ryu.
Karate tradicional
A forma ensinada por Funakoshi era tradicional, tendo como base a filosofia do Budo, em cujo conteúdo há a consciência da busca constante pelo aperfeiçoamento pessoal, sempre contribuindo para a harmonização do meio onde se está inserido, por intermédio de muita dedicação ao trabalho, treinamento rigoroso e vida disciplinada. O praticante do karate tradicional caminha em direção dessas metas, formando seu caráter, aprimorando sua personalidade.
Nesse sentido, pode-se afirmar que arte marcial contribui para a formação integral do ser humano, não podendo, portanto, ser confundido com uma prática puramente esportiva. "Tradição é um conjunto de valores sociais que passam de geração a geração, de pai para filho, de mestre para discípulo, e que está relacionado diretamente com o crescimento, maturidade, com o indivíduo universal."
A famosa expressão do mestre Gichin Funakoshi - Karate ni sente nashi (空手に先手なし? No karate não existe atitude ofensiva) - define claramente o propósito antiviolência.
Se o adversário é inferior a ti, então por que brigar?
Se o adversário é superior a ti, então por que brigar?
Se o adversário é igual a ti, compreenderá, o que tu compreendes...
então não haverá luta.
Honra não é orgulho, é consciência real do que se possui.
O verdadeiro valor do karate não está em sobrepujar os outros pela força física. Nesta arte marcial não existe agressão, mas sim nobreza de espírito, domínio da agressividade, modéstia e perseverança. E, quando for necessário, fazer a coragem de enfrentar milhões de adversários vibrar no seu interior. É o espírito dos samurais.
Cisão
Quando se mudou para Tóquio, mestre Funakoshi admitiu como aluno o já experiente lutador de jiu-jitsu Hironori Otsuka, que ficou impressionado com as proezas que os caratecas faziam em suas demonstrações.
Eventualmente, Otsuka tornou-se instrutor de karate shotokan, mas, em 1930, as divergências sobre a condução da arte tornaram-se mais acentuadas, pelo que os mestres chegaram ao consenso de seguirem caminhos diferentes. Dessa primeira cisão, nasceu o estilo Wado-ryu, que incorpora técnicas de jiu-jitsu e gotende ao repertório do karate, dando mais ênfase à pratica de kumite.
Após a morte de Gichin Funakoshi, outras dissensões tornaram-se evidentes. Alguns defendiam a participação em torneios e disputas e outros se mantinham arraigados à proposição inicial de proibir qualquer tipo de embate, devendo a arte ser desenvolvida principalmente por meio do treinamento reiterado de kata. Apartada, veio a lume a linhagem Shotokai.
A linhagem Shotokan foi assumida por Masatoshi Nakayama, e permaneceu única (isto é, sob a direção da JKA) até 1977, quando o mestre Hirokazu Kanazawa formou outra dissensão. Nesta última, ao longo do tempo pequenas diferenças foram-se acumulando, principalmente quanto à execução de katas. E, no início do século XXI, outros katas passaram ser treinados, o que acentua ainda mais o distanciamento.
Há ainda a linhagem Asai-ha, do Mestre Tetsuhiko Asai.
Características
O estilo Shotokan caracteriza-se por bases fortes e golpes no corpo inteiro. Os giros sobre o calcanhar em posição baixa dão fluidez ao deslocamento e todo movimento começa com uma defesa. Este é um estilo em que as posições têm o centro de gravidade muito baixo, e em que a técnica de um "simples" soco direto, difícil de ser dominada, quando a técnica é dominada o seu poder é incrível e quase sobre-humano.
Alguns tendem a classificá-lo como uma evolução do estilo shuri-te ou shorin-ryu. Entretanto, há divergências porque as bases do shotokan são precipuamente baixas, enquanto que em shuri-te são altas. Ademais, há golpes como mae geri e ushiro geri, que não são comuns nos estilos shorin, mas estão presentes no estilo de Funakoshi.
Neste estilo são levados a sério fatos como: a concentração e o estado de espírito, pois sem concentração e um estado de espírito leve porém determinando a técnica, de pouco servirá, devendo estes dois atributos expandirem-se com a prática e determinação.
Ética
O karate moderno, ou kara-te-do, pretende ser muito mais do que uma disciplina de combate, mas, antes de tudo, o fito é proporcionar ao praticante um meio de evolução pessoal completa. Nesta seara, os rituais, concebidos para serem praticados em todos os locais de treinamento, propõem uma série de atitudes e gestos que facilitam as relações entre eles deixando claro o desejo comum de obedecer a uma ordem válida para toda a comunidade e para cada um. A intenção do praticante é sempre a de estimular o progresso coletivo na arte sem perder, contudo, o desenvolvimento individual.
A prática do karate está repleta de exercícios fortes e combativos, porém não se pode perder de vista o espírito de conciliação, buscando a vitória pela harmonia, pela paz, e olvidando as atitudes egoístas, pelo que tenta fazer incutir a ideia de que o grupo faz parte do indivíduo: um carateca deve treinar com seu companheiro com todo respeito e consideração, pois o considera como parte de si mesmo e sem o qual não há treinamento.
É, pois, de fundamental importância tratar o companheiro com cortesia e agradecimento, haja vista o colega proporcionar um aprendizado mais achegado à realidade. Deve-se ainda ao instrutor respeito e agradecimento pela transmissão dos conhecimentos e pela dedicação e esforço em ensinar segredos que foram por muitos séculos restritos a uma minoria privilegiada.
Tem-se como máxima que respeitar é se fazer respeitar. Conciliar e nunca confrontar é o princípio básico. Esquecer-se da palavra "eu" e substituí-la pela palavra "nós" é a essência do ensinamento. Outro ponto fundamental é que se treina karate para a vida. Portanto, fica claro ao praticante e ao grupo que o fundamental não é vencer, não é derrubar, não é ser o mais forte, mas descobrir o potencial individual, o centro das ações e se, ele não for o centro, colocar-se em uma de suas órbitas, de acordo com suas reais condições.
Cumprimento
Uma demonstração tradicional de cortesia é o cumprimento, isto tanto é verdade que ele é realizado no início e no final da aula de frente para o Shomeni (forma de agradecimento àqueles que desenvolveram a arte). Ao cumprimentar, deve-se mirar para baixo e não na face do seu oponente, pois cruzar o olhar com alguém durante um cumprimento é sinal de falta de confiança. O cumprimento pode ser feito de duas maneiras distintas:
Ritsurei (?), cumprimento em pé, em posição natural ou shizentai;
Zarei (?), cumprimento em posição de seiza.
O cumprimento deve acontecer nas situações a seguir:
1.Quando se entra ou sai do dojô;
2.Quando o professor entra ou sai do dojô;
3.No início e final de um combate;
4.No início e final da aula;
5.No início e final de um kata;
6.No início e final de um exercício com um companheiro.
A maneira correta de se cumprimentar é, partindo-se da posição natural, curvar o corpo apenas em 30 cm e segurá-la por meio segundo e retornar a posição ereta. O zarei é realizado a partir da posição seiza, inclinando-se o corpo e as mãos descem suavemente das coxas para o chão, formando um triângulo onde a fronte tocará.
Niju kun
O Niju Kun é a síntese do pensamento de Funakoshi sobre como deve ser o espírito do praticante de karate. São vinte preceitos cujo propósito é dar subsídios acerca da prática cotidiana da modalidade, servindo também como um guia para o autoconhecimento.
Kihon
Sendo um descendente do shorin-ryu, o estilo adotou o sistema de kihon criado por Anko Itosu, pelo qual se ensinam as técnicas básicas, os fundamentos técnicos antes de treinar kata ou kumite. Mestre Funakoshi dava ênfase nos treinos com kata, mas reconhecia que o praticante devia executar antes os movimentos básicos, para facilitar o aprendizado profundo do karate, compilados num chute, soco ou projeção.
Kata
Ver artigos principais: Katas do karate e Kata
O conjunto de kata conta ao todo 26. Os kata auxiliam o iniciante a assimilar o estilo e aprender as técnicas básicas de movimentação, defensa e ataque. Para o avançado os kata são um confronto com as ideias dos antigos mestres, nestes confrontos os atuais praticantes entendem os segredos da arte que só são aprendidos mediante prática exaustiva e não oralmente.
Logo no início, existiam no estilo apenas quinze katas. A série Pinan foi incorporada por intermédio do mestre Kenwa Mabuni.
1.Heian shodan
2.Heian nidan
3.Heian sandan
4.Heian yondan
5.Heian godan
6.Tekki shodan
7.Tekki nidan
8.Tekki sandan
9.Bassai dai
10.Jion
11.Enpi
12.Jitte
13.Hangetsu
14.Kanku dai
15.Gankaku
16.Nijushiho
17.Jiin
18.Bassai sho
19.Kanku sho
20.Chinte
21.Wankan
22.Sochin
23.Meikyo
24.Gojushiho sho
25.Gojushiho dai
26.Unsu
Kumite
Gichin Funakoshi
Originalmente, o treino com lutas não fazia parte do aprendizado do karate, pois os mestres tradicionais sempre consideram os golpes como potencialmente letais. Contudo, com advento do karate moderno, o kumite foi de forma paulatina sendo incorporado aos treinamentos, como meio de dar aplicação prática das técnicas estudadas diante de um adversário real. Seu objetivo é demonstrar a efetividade tanto das técnicas de ataque como de defesa.
Os pontos importantes a se observar no trabalho do Kumite são: distância, velocidade, reação, antecipação, controle e correta aplicação de ataque e defesa. Os quais permitem desenvolver a tática e a estratégia.
Graduação
Ver página anexa: Graduações do karate
Branca
Amarela
8º kyu
Vermelha
7º kyu
Laranja
6º kyu
Verde
5º kyu
Roxa
4º kyu
Marrom
3º kyu
Marrom
2º kyu
Marrom
1º kyu
Preta
1º - 10º Dan
Competições
A busca de vitórias em competições não é o principal objetivo do karate . As competições são um meio que permitem ao praticante fazer uma autoavaliação técnica e emocional. Vencer ou perder numa competição não é o mais importante, o relevante é o crescimento como lutador e como pessoa que ela proporciona. A prática nunca foi bem vista pelos mestres, chegando a ser peremptoriamente desestimulada por Mestre Funakoshi.
A despeito de severas reticências, a competição foi paulatinamente se fixando na seara do karate. Ainda assim, o cerne exigido dos lutadores é a eficiência na execução dos movimentos, ou seja, a dinâmica corporal utilizada para se aplicar os golpes, e não tão somente a velocidade ou o contato. Não basta acertar o alvo, é preciso fazê-lo da forma correta, baseado nos fundamentos técnicos. Isso exige um grande domínio físico e mental, e também estimula a busca pelo aperfeiçoamento pessoal e pelo refinamento da técnica. "Perder-se na beleza dos movimentos ou apenas buscar pontos numa luta não levam à perfeição!"
Numa competição de karate tradicional não há divisão de pesos. O lutador cujo físico é pequeno poderá vencer o grande, se estiver bem preparado. Ele deverá estar disposto a enfrentar qualquer adversário, seja qual for o seu tamanho.
As modalidades de competição são:
Kata individual - Apresentação individual de kata: Durante as fases eliminatórias, dois competidores executam o mesmo kata (que é escolhido pelo árbitro central) lado a lado, e o vencedor é aclamado pelos árbitros através de bandeiras.
Kata em equipe - Apresentação de kata e respectiva em equipes de três pessoas.
Kumite individual - Combate individual.
Kumite em equipe - Combate em equipes de cinco pessoas: A cada luta são somados os pontos de cada lutador aos pontos de sua equipe. Será vencedora a equipe que obtiver o maior número de pontos ao final da última luta.
Mestre Funakoshi não criou propriamente um estilo, o que ficou evidente após seu passamento com a formação dos estilos Sotokan e Shotokai, cujos nomes querem dizer exatamente a mesma coisa: "casa de Shoto". A palavra kata, em romaji, não deve ser escrita no plural, mesmo que se refira a vários kata. No idioma japonês não existe plural e muito menos as palavras são escritas no feminino. Logo a palavra kata não pode ser dita desta forma: a kata, porque não é uma palavra feminina. Diga sempre o kata, o kamae, e assim por diante. E letras como V, L, X e Q não existem no idioma japonês.
oss!
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